Por alturas da Cimeira...

Reparei que os táxis "têm" Fernando Pessoa...
Hoje, porque chove em tantos sítios, recordei Álvaro de Campos:

"A minha alma partiu-se, como um vaso vazio
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso...

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir...

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.

Não se zanguem com ela.
Sejam tolerantes com ela
O que era eu, um vaso vazio?

Olham os cacos absurdamente conscientes
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.

Olham e sorriem...
Sorriem tolerantes à criada involuntária.

Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-no especialmente, pois não sabem porque ficou ali..."

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