Parem o Mundo! Quero sair...

O entra e sai nas nossas vidas... O passar por aqui ou por ali... A inconstância, a privação de Amor e de Felicidade plena... Só pode fazer da Vida um grande pedaço de fel, um amargo de boca constante, um ódio permanente...
Perder a capacidade de amar... é possível?

Hoje olhei para ela: a personificação duma existência dura, doente, sem cor, sem nada...
Bonita, apesar de não estar no seu melhor. Convencida de uma vida que não é a dela. Vive com os seus fantasmas, com os seus medos, com os seus ódios e rancores.
O coração está cinzento... Ganha pequenos pedaços de cor cada vez que a fazem acreditar que existe. Ou cada vez que ela acha que existe...
A mulher tem uma cara esverdeada, acinzentada... mas bonita.

Arrepia-me mirá-la de soslaio...
Tem uma cara tão bonita, mas tão agressiva...

A Paz não mora ali há que tempos. Ela fala como se todos vivessem organizados para lhe fazerem mal. Ela pretende afastar-se do Mundo, de todos, e tudo.
Está na esplanada a falar com um amigo, que pelos vistos não é amigo... é alguém que passou pela vida dela e foi apanhado naquele instante... Ele não quer estar ali, não quer ouvi-la, está com olhar de quem não tem nada a ver com isso...
Ela empolga-se e até se comove e ele, ali... apático, indiferente, soltando um "pois" de vez em quando, abanando a cabeça aqui e ali.
Ela repete "tu já me conheces, sabes como eu sou". Na realidade ele não sabe mesmo, ele queria que passasse um tufão e a levasse dali para sempre.
O telemóvel toca... é um bom pretexto para ele fazer o que almejava... Desaparecer!
E ela ficou ali, negra de ódio, de raiva... Nem o sol lhe aquece o coração...

Não é possível ser-se consumido por este horror...
Não deixa que ninguém se chegue perto dela! Não aceita nada que não seja minuciosamente analisado porque, quiçá, vem armadilhado com algum punhal para o seu coração negro...

Morre de inveja das pessoas felizes mas chama-lhes falsas... Acha que ninguém pode ser tão feliz... olha para mim agora, com ódio, com olhares fulminantes...
Inventa maleitas e dores que se já enraizaram... Serviram para chamar a atenção sobre si... Agora, não a matam, mas são indiferentes à humanidade.
Será que há remédio para este ser, tão belo mas tão cinzento?
Arrepia-me olhar para ela... Não se pode olhar de frente porque ela foge... Envolveu-se num circuito de mentiras e falsidades que a fazem não poder olhar para ninguém. Não suporta ninguém, ouvir nada de ninguém... Acredita que é má, que ninguém gosta dela!

Ela escreveu numa folha de um caderno ali na esplanada... Foi-se embora e deixou-o para trás... Terá sido de propósito? Eu espero, levanto-me e vou buscá-lo.
A mensagem escrita não promete que ela vá fazer nada de bom... Ou secalhar vai fazer o que é melhor para ela... Encontrar um sol ou um caminho... Mas ela acha que é tarde demais...
Sente o ventre seco, os olhos sem vida, a vida sem coragem...
Arrepia-me ler o que ela deixou escrito, sentir que não posso fazer nada por ela...
Para onde será que ela vai?

Pensei que se ia embora de vez... Volta de repente e pergunta se ninguém viu o caderno que deixara na mesa... entreguei-lhe o caderno, levantei os óculos de sol, tentei encontrar os olhos dela... mas da mesma forma como chegou, saiu e nem agradeceu ter-lhe guardado o caderno, a vida...
Espero que vá encontrar-se, encontrar a sua alma!

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